sábado, 22 de julho de 2023

Le Corbusier e a Pampulha: sete anos de um momento histórico

 


O tombamento mundialmente aclamado da Pampulha, projeto do nosso Oscar Niemeyer, se deu em conjunto com 16 obras do mestre da arquitetura moderna, Le Corbusier, há exatamente sete anos, no dia 16 de julho de 2016, em Istambul, na Turquia. A candidatura da Pampulha enquanto patrimônio mundial foi iniciada em 2013. Foram 4 anos de pesquisa e muito trabalho para a Pampulha obter tal reconhecimento da Unesco. O título posicionou Belo Horizonte no seleto grupo de lugares singulares para a história da humanidade, como aqueles com obras de Le Corbusier.

A 40ª Reunião do Comitê do Patrimônio Mundial marcou, portanto, um momento histórico, em que aconteceu mais um “encontro” entre o Brasil e o mestre franco-suíço. O primeiro foi em 1929, quando Le Corbusier fez sua primeira viagem à América do Sul, lançando as bases para uma imensa revolução arquitetônica e artística que alcançaria todos os países do continente latino-americano.

Niemeyer
Essa novíssima arquitetura Corbuseana despontou no cenário internacional e deixou reflexos visíveis ainda hoje, haja vista as casas de linhas retas, ao contrário do estilo colonial, que predominam na grande maioria dos projetos em construção. A Modernidade, assim, foi a grande marca do século XX, e está impressa na origem do projeto da Pampulha, assinado por Niemeyer, que criou, a partir dessas referências, uma arquitetura originalmente brasileira.

Le Corbusier também mostra que bebeu das fontes ameríndias, do próprio Niemeyer e dos modernistas brasileiros, ao declarar de forma profética à época: “Compreendi, entre esses irmãos apartados de nós pelo silêncio de um oceano, os escrúpulos, as dúvidas, as hesitações e os motivos que explicam a condição atual de suas manifestações. Confiei no amanhã. Sob uma luz como esta, a arquitetura há de nascer”. E nasceu. Nasceu sublime como é o Edifício Capanema, no Rio, Cataguases, na Zona da Mata de Minas Gerais, Pampulha, em Belo Horizonte, e Brasília.


Revolução modernista
Essa revolução modernista aconteceu, precisamente no início do século, na década de 1920, dois anos antes da Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo. Na França, Le Corbusier projetou uma série de residências unifamiliares para clientes cultos, que, assim como o arquiteto, achavam que a moradia moderna devia ser uma “machine à habiter” (máquina habitável), como é o caso da Villa Savoye (1929-1930), em Poissy, na França.

Essa nova arquitetura foi base para o modernismo racional em todo o mundo. Quando analiso a história da modernidade visualizo as cidades contemporâneas no Brasil.  A partir de sua vinda à América do Sul, Le Corbusier passa a fazer da natureza um tema e, em contrapartida, a arquitetura brasileira declara inspiração no mestre franco-suíço e em sua arquitetura.

Durante a conferência no Rio de Janeiro, Le Corbusier fez referência à intervenção humana na natureza. Nos projetos sul-americanos dessa época podemos ver Corbusier condicionar os pressupostos teóricos de caráter mais genérico, expressos na “Ville Contemporaine” ou no “Plan Voisin”, aos elementos dominantes da natureza, de modo a explorar e conquistar, pela ordem geométrica, cada uma das circunstâncias geográficas.

A presença do arquiteto no Brasil, somada à Semana de 1922, é de extrema importância para a compreensão da nossa modernidade. Dela aprendemos que a geometria é a resposta da razão à natureza, atendendo àquele princípio de impor uma grande forma, fundada na lógica cartesiana e no cálculo racional, cuja finalidade é organizar o mundo de uma maneira exata e de acordo com a razão. “Porque os eixos, os círculos, os ângulos retos, são as verdades da geometria e são os efeitos que nosso olho mede e reconhece”, afirmou o mestre franco-suíço. 


Mas, à plasticidade e aos princípios das formas corbusianas vão sendo acrescentados outros elementos, na mesma intensidade em que as ideias fundamentais da arquitetura moderna vão ganhando em relaxamento, inovação e ousadia, coincidindo com seu período de maturidade. Maturidade essa que teve em Lucio Costa, Oscar Niemeyer e toda uma geração, a função de mudar os desígnios, ou o design, do Brasil e de Minas Gerais.

Texto de Leônidas Oliveira, secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais,

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