Fotos: Paulo Lacerda
Uma viagem pela tradição cultural afro-americana e afro-brasileira, destacando a importância de artistas negras e negros na história da música clássica. É este o fundamento do concerto “Sobre Tons”, que acontece no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes no dia 7 de novembro, a partir das 20h. A apresentação gratuita reúne a Orquestra Sinfônica de Minas Gerais – sob regência de sua maestra titular, Ligia Amadio –, o Coral Lírico de Minas Gerais e as solistas mineiras Edna D’Oliveira e Edineia de Oliveira, na interpretação de peças brasileiras, spirituals e outras composições que atravessam a história dos povos que compõem a diáspora africana. Os ingressos estão disponíveis gratuitamente na bilheteria do Palácio das Artes e na plataforma Eventim; será possível retirar até dois pares por CPF. O concerto “Sobre Tons” é realizado no âmbito do programa homônimo, do Ministério Público de Minas Gerais, em parceria com a Fundação Clóvis Salgado.
Será dia 7 de novembro, às 20h, no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, em Belo Horizonte, com classificação indicativa: 10 anos. Entrada gratuita; ingressos disponíveis na bilheteria do Palácio das Artes e na plataforma Eventim (será possível retirar até dois pares por CPF)
Informações para o público: (31) 3236-7307 / www.fcs.mg.gov.br
Fotos: Paulo Lacerda
Maestra Ligia Amadio
Além das vozes e instrumentos, o concerto contará
ainda com passagens narradas pelas solistas e projeções visuais, destacando
cantoras negras brasileiras importantes para a história da música clássica no
país desde o século XVIII, como Joaquina Maria da Conceição – mais conhecida
como Joaquina Lapinha –, Camila Maria da Conceição, Zaíra de Oliveira, Maura
Moreira e Maria d'Apparecida. O repertório da apresentação reúne obras
brasileiras, a exemplo do “Kyrie” da “Missa Afro-Brasileira” do maestro Carlos Alberto
Pinto Fonseca; spirituals de autoria
anônima, como “My Lord What a Morning”, “Calvary”, “Sometimes I Feel” e “City
Called Heaven”; canções religiosas tornadas célebres na voz de intérpretes
negras/os, tais quais “Amazing Grace” e “Grandioso és Tu”; o “Hino Nacional da
África do Sul”, composto pelos sul-africanos Enoch Sontonga, Jeanne
Zaidel-Rudolph e Marthinus Lourens de Villiers; e diversas outras composições.
.O concerto “Sobre Tons” é viabilizada pela Lei Federal de Incentivo Cultura. pelo Ministério da Cultura, Ministério Público de Minas Gerais, Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e Fundação Clóvis Salgado, com patrocínio da Cemig, Instituto Cultural Vale, Grupo Fredizak, Instituto Unimed-BH, ArcelorMittal e Vivo, e correalização da APPA – Cultura & Patrimônio.. O Palácio das Artes integra o Circuito Liberdade, que reúne 35 equipamentos com as mais variadas formas de manifestação de arte e cultura em transversalidade com o turismo. A ação é viabilizada pelo Sobre Tons, programa antirracista do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), por meio do Fundo Especial do Ministério Público de Minas Gerais – FUNEMP, e pela Lei Federal de Incentivo à Cultura. Vale-Cultura. Governo do Brasil, do lado do povo brasileiro.
Resgate das raízes
A soprano mineira Edna
D’Oliveira e sua irmã, a mezzosoprano Edineia de Oliveira, ambas nascidas em
Belo Horizonte, estão entre as mais conceituadas cantoras líricas do cenário
contemporâneo brasileiro. Edineia conta que essa jornada de sucesso das duas,
especialmente como solistas de óperas, começou justamente no Palácio das Artes,
onde fizeram parte do Coral Lírico de Minas Gerais. “Voltar ao Palácio das Artes
em diversas produções (inclusive na incrível ópera ‘Matraga’, em 2023 e 2025),
sempre é uma sensação de alegria da primeira casa. Aqui encontramos amigos de
adolescência, contemporâneos das escolas de música e grandes companheiros da
caminhada do coral e orquestra, que enchem o nosso coração de alegria e
esperança”, celebra.
Há
décadas, as duas combinam seu trabalho no palco com um compromisso também por
mais justiça e oportunidades para artistas negras/os, resgatando no processo a
memória das pessoas responsáveis por abrir caminhos no passado. “Em tempos
atuais, negras e negros podem ser vistos no elenco de grandes óperas. Mas nem
sempre foi assim: há uma história que deve ser contada, que remonta a tempos
não tão distantes, onde os palcos eram campos proibidos para pretas e pretos.
Hoje, os teatros estão abertos para nós, que temos a ancestralidade registrada
na pele, mas em que medida estes locais são realmente ocupados?”, questiona
Edna – que, além da carreira musical, também atua como professora e, de forma pioneira, como
pesquisadora acerca das cantoras líricas negras no Brasil. Edineia complementa.
“Por que ainda nos são recusados estes espaços de poder? É com base nestas
reflexões que nasce nossa proposta, do ímpeto de duas mulheres pretas que há
muito tempo tentam quebrar essas barreiras. Nós, profissionais do canto lírico
que, por meio da criação de um espetáculo multilinguagens, queremos fazer ecoar
um grito por reparação”, defende.
As
irmãs relatam que a razão central para a criação do espetáculo veio do fato de
que algumas das principais cantoras negras da tradição lírica brasileira não
são conhecidas pelo público. “É desse desejo de trazer de volta esses nomes,
celebrando a contribuição negra para a música de concerto, que idealizamos o
projeto. Trata-se de um ‘som’ que não irá somente acalentar o espectador:
provocará o mesmo calafrio que diversas vezes percorreu nossa espinha como
sensação involuntária a todos os ‘nãos’ escutados, aos prêmios preteridos, aos
papéis esquecidos e toda sorte de amarras que seguem nos privando coletivamente
do devido reconhecimento”, ressalta Edineia. Edna aponta, porém, que a arte é
capaz de restaurar, e o canto, de regenerar. “O concerto que trazemos visa
também resgatar a história dessas cantoras pioneiras – muitas delas nascidas
ainda quando o regime escravocrata era vigente no Brasil –, nosso matriarcado
preto na música lírica brasileira, e de tantas outras que precisaram lutar para
ocupar esses espaços. Espero que o público saia sensibilizado e inspirado a
procurar saber mais sobre a importância histórica das artistas negras na música
clássica de ontem, de hoje e do futuro, quando esperamos estar em maior número
e ocupando os palcos de maneira mais consolidada”, afirma Edna.
Palácio das Artes
FUNDAÇÃO CLÓVIS SALGADO – Com a missão de fomentar a
criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no estado, a
Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e
Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita
e popular, ópera e teatro constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as
inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete
– Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Palácio da Liberdade, espaços geridos
pela FCS. A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos
– Cia de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra
Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do
Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart). A Fundação Clóvis Salgado
é responsável, ainda, pela gestão do Circuito Liberdade, do qual fazem parte o
Palácio das Artes, Palácio da Liberdade e a CâmeraSete. Em 2021, quando
celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais,
disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto
dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e
para todas as pessoas.
MINISTÉRIO PÚBLICO DE MINAS GERAIS – O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) é uma instituição
responsável pela defesa dos direitos dos cidadãos e dos interesses da
sociedade. Sua função é zelar pela correta aplicação da lei, pela ordem
jurídica e pela democracia. Cabe a ele lutar contra as desigualdades,
garantindo uma vida digna a todos os cidadãos. Com o objetivo de combater o
racismo, o MPMG lançou, em 2023, o programa antirracista “Sobre Tons”, por meio
da Coordenadoria de Combate ao Racismo e Todas as Outras Formas de
Discriminação (Ccrad) e da Assessoria de Comunicação Integrada (Asscom). No ano
de seu lançamento, o programa teve como ação principal o letramento racial de
seu público interno, com a divulgação periódica de conteúdo informativo. A
partir de 2024, expandiu seu trabalho para toda a sociedade, por meio de parcerias, com sessões de cinema
comentadas, veiculação de vídeos em estádios de futebol e nas redes sociais,
criação de um podcast, promoção de atividades culturais, entre outras ações. Em
dezembro de 2024, deu origem, juntamente à Educafro Minas e à Fundação Escola Superior
do Ministério Público de Minas Gerais, ao Projeto Tenório, que concede bolsas
integrais para pessoas negras em curso preparatório para ingresso na carreira
de promotor de Justiça. Neste ano de 2025, em parceria com a Fundação Clóvis
Salgado, o programa multiplicou suas ações culturais, fortalecendo o
compromisso com a escuta e a valorização das vozes negras.
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