A partir do registro dos sistemas culinários do milho e da
mandioca, a cozinha mineira foi declarada patrimônio cultural imaterial de
Minas Gerais, no dia 5 de julho, durante a reunião do Conselho Estadual de
Patrimônio Cultural (Conep), no Palácio da Liberdade. A deliberação aconteceu
na mesma data em que se celebra o Dia da Gastronomia Mineira.
Com
o objetivo de celebrar e promover os ingredientes, saberes e práticas que
constituem a cultura alimentar mineira, o Governo de Minas lançou na ocasião o
projeto Cozinha Mineira Patrimônio - Temporada 2023, por meio da Secretaria de
Estado de Cultura e Turismo e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico
de Minas Gerais (Iepha-MG).
“A
proteção, que se deu nesta quarta-feira (5) à cozinha mineira como patrimônio
imaterial, continua nessa temporada, a partir da qual nós vamos valorizar e
promover a cultura alimentar e gastronômica de Minas Gerais. Isso significa que
teremos vários festivais da cozinha mineira espalhados pelo estado, de forma
especial no Circuito da Liberdade. Teremos também ações para desenvolver o
turismo de base comunitária e, com a Secretaria de Estado de Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (Seapa), pretendemos proteger e salvaguardar ainda
mais a agricultura familiar”, pontuou o secretário de Estado de Cultura e
Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira.
Na sequência, ele ressaltou a importância dos povos originários e
tradicionais na construção da cozinha mineira. “É sobretudo no povo negro, nos
povos indígenas da nossa terra, que nasce a genialidade dessa cozinha. É um dia
de celebração imensa para Minas Gerais essa declaração da cozinha mineira como
patrimônio imaterial do estado”, completou Oliveira.
O
Cozinha Mineira Patrimônio contemplará uma série de ações que reforçam a
importância da cozinha mineira para a cultura, o turismo e o desenvolvimento
econômico e social do estado, enaltecendo a cozinha mineira enquanto patrimônio
imaterial.
A deliberação sobre o Registro dos Sistemas Culinários da Cozinha Mineira – O Milho e a Mandioca são de grande relevância para o reconhecimento e a valorização de saberes e práticas desenvolvidos pelos povos originários e tradicionais, como as comunidades indígenas e negras. A contribuição desses povos foi essencial para que a mandioca e o milho constituíssem alguns dos pilares que sustentam a cozinha mineira.
Reunião do CONEP no Palácio da LiberdadeO
secretário Leônidas Oliveira sublinha como essa herança dos povos originários e
tradicionais permeia a cultura alimentar dos mineiros. “O fubá que é produzido
a partir do milho deu origem ao nosso angu e a diversos outros preparos, como
broas, bolos e biscoitos. Eduardo Frieiro, no livro ‘Feijão, angu e couve’
demonstrou como a origem do angu está atrelada à história dos povos de origem
africana que contribuíram para construir os hábitos alimentares em Minas
Gerais, desde o período da formação do estado. A mandioca, cultivada pelos
indígenas, é outro elemento essencial do qual se extrai o polvilho, que é a
base do nosso pão de queijo, dos biscoitos, além da própria farinha que é ingrediente
do tropeiro. O registro dos Sistemas Culinários da Cozinha Mineira - o Milho e
a Mandioca, reverencia, assim, os povos originários e tradicionais, os
fazedores de farinha, que desenvolveram os elementos fundantes da nossa
cozinha”, reflete o secretário.
Primeiro
sistema culinário caracterizado pelo Iepha-MG
Os
saberes ligados ao milho e à mandioca constituem o primeiro sistema culinário a
ser identificado pelo Iepha-MG no âmbito das pesquisas sobre a Cozinha Mineira.
Essa decisão é fruto de estudos para a compreensão da cultura alimentar do
estado, os quais vêm sendo realizados pelo Iepha-MG e parceiros desde 2019.
Outra
etapa desse trabalho foi a identificação de quase 700 moinhos de milho e casas
de farinha de mandioca em Minas Gerais. O cadastro foi viabilizado por meio da
ação conjunta entre Iepha-MG, prefeituras, instituições de ensino, comunidades
e pesquisadores.
O
Registro dos Sistemas Culinários da Cozinha Mineira – O Milho e a Mandioca
compreende o ato de se alimentar de maneira ampla, ressaltando os valores
socioculturais, simbólicos e cosmológicos. Fatores como o plantio, o
processamento, a preparação, o consumo são levados em conta junto as
características de sociabilidade e ritualística atreladas aos lugares,
paisagens, instrumentos, métodos e técnicas que definem os saberes culinários
transmitidos ao longo das gerações.
Cozinha
Mineira Patrimônio - Temporada 2023
O
projeto Cozinha Mineira Patrimônio visa, assim, à promoção do repertório
alimentar e gastronômico mineiro, a partir de ações voltadas ao fomento, à
capacitação, à valorização e à divulgação dos sistemas culinários da cozinha
mineira enquanto patrimônio cultural imaterial.
Além
da entrega do dossiê para o Registro dos Sistemas Culinários da Cozinha Mineira
– O Milho e a Mandioca, o Iepha-MG realizará a publicação de uma edição dos
Cadernos do Patrimônio dedicada ao tema. A divulgação de peça audiovisual sobre
o assunto e de material educativo a ser compartilhado nas escolas, bibliotecas
e museus também estão previstas.
Compõem
o trabalho do Iepha-MG: ações de identificação e pesquisa com finalidade de
inventário ou registro dos saberes relacionados aos sistemas culinários e
agrícolas desenvolvidos pelas comunidades tradicionais mineiras; organização e
disponibilização do acervo documental sobre os bens culturais protegidos a
nível municipal relacionados aos Sistemas Culinários da Cozinha Mineira para
consulta pública; identificação de feiras e circuitos gastronômicos da Cozinha
Mineira; organização e divulgação de um calendário que reúna as festividades
gastronômicas relacionadas aos sistemas culinários associados ao milho e à
mandioca no estado.
A
articulação com os municípios é outro ponto importante, a partir do estímulo às
iniciativas de salvaguarda, tendo em vista a pontuação no programa ICMS
Patrimônio Cultural das cidades com bens protegidos no âmbito da Cozinha
Mineira.
Capacitações,
por meio das Rodadas do Patrimônio Cultural, promovidas pelo Iepha-MG, também
deverão contribuir para a formação de gestores sobre a temática da salvaguarda,
incentivando a participação dos mais diversos agentes de patrimônio, em
especial, os detentores do saber.
A
realização de um programa voltado à agricultura familiar, contemplando, por
exemplo, comunidades ribeirinhas e quilombolas, é outra ação prevista. Com o
nome Agricultura Familiar e Sustentável, o projeto visa preservar as práticas e
conhecimentos transmitidos por gerações enquanto também auxilia essas
comunidades na geração de renda de maneira sustentável. Esse trabalho será
desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Seapa), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater)
e o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA).
Campanhas-Além disso, a valorização da
cozinha mineira baseia uma nova campanha do Governo do Estado, concebida para
promover o destino Minas Gerais, a partir das “cinco estrelas” da atividade
turística em território mineiro: a experiência gastronômica, o turismo de
natureza, de aventura, os patrimônios históricos e a arte moderna e
contemporânea.
Neste
sábado (8/07), também haverá a inauguração, no Mercado Central, da estátua em
homenagem à Dona Lucinha (1932-2019), responsável por iniciar um movimento de
revalorização dos ingredientes tradicionais da cozinha mineira. Reconhecida no
país e no exterior, ela foi empresária, professora, escritora e pesquisadora,
além de exímia cozinheira, deixando um legado importante e inspirador para
gerações de chefs e cozinheiros.
Destaque
para o tema nas principais feiras de turismo do país é outro objetivo. A
cozinha mineira estará atrelada à promoção da Candidatura dos Modos de Fazer o
Queijo Minas Artesanal como Patrimônio Imaterial da Unesco, a qual deverá se
intensificar até 2024.
Ampla
divulgação do selo da Cozinha Mineira Patrimônio, desenvolvido pelo Instituto
Periférico, em todas as ações, concursos e eventos que a Associação Brasileira
de Bares e Restaurantes (Abrasel) desenvolver no segundo semestre de 2023
também está no radar.
O
Seminário Internacional da Cozinha Mineira, que será sediado em Tiradentes, em
novembro, é outra ação voltada à capacitação e promoção da cozinha mineira
contemporânea.
A
criação do Observatório da Cozinha Mineira é outro destaque. A proposta é
estabelecer uma rede de pesquisa, com finalidade de monitorar o desenvolvimento
da cozinha mineira através do levantamento de pesquisas, dados, números e
elaboração de indicadores.
Press
trips, famtours gastronômicos, parceria com influenciadores digitais e chefs da
cozinha mineira complementam o conjunto dessas ações. Rodadas de negócios com
produtores e agentes para formatação de produtos turísticos deverão acontecer
também até o fim de 2023.
Coluna
Minas Turismo Gerais, Jornalista Sérgio Moreira @sergiomoreira63 Informações
para a coluna enviar para sergio51moreira@bol.com.br
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